sábado, 11 de julho de 2009

Mudança da sociedade e a ansiedade (artigo)

O modo de vida da sociedade uberlandense está mudando.Vários fatores são responsáveis por esta alteração . Este fatores estão influenciando no nível de ansiedade das crianças que aqui vivem?
Uberlândia é uma cidade de mais de 500.000 habitantes localizada na região do triângulo mineiro .Possui um crescimento vertiginoso com uma população que aumenta em aproximadamente 3% ao ano enquanto que as várias cidades vizinhas, que são menores, crescem em níveis menores quando não apresentam um índice negativo.Situada entre São Paulo capital e o norte do país,aproveitou-se da situação geográfica para desenvolver forte comércio.Nesta cidade há um clube muito bem estruturado e com fama internacional,citado como um dos melhores da América do Sul.Possui várias piscinas ,aquecidas,semi aquecidas,quadras de esporte e com um quadro de sócios superior a 10.000 pessoas.Foi neste local,após uma aula de natação para crianças que escutei a fala de uma mãe e me levou a escrever este artigo.Era um dia de semana e a mãe desta criança disse com um tom aflita quando sua filha de idade aproximadamente 10 a 12 anos saía ainda da piscina,após ter tido 50 minutos de treino de natação:
_”Depressa porque você vai se atrasar para a aula no conservatório musical”.Rapidamente ela tomou as mãos da criança e a passos ligeiros entraram no vestiário .Depois de trocar o traje de natação pela roupa , com o cabelo molhando o ombro, dirigiram-se para o estacionamento e seguiram seu destino.

Em conversa com pessoas nascidas entre os anos 1920 e 1940,soube um pouco como era o modo de vida . Não havia casas com muros altos pois a criminalidade era muito baixa.As crianças brincavam nas ruas e praças se locomovendo por si próprias e os jogos eram interativos entre eles.Havia um maior contato com a natureza , apanhava-se frutos da árvores e estas serviam para subir pendurar balanços com pneus cortados ao meio,as pessoas estudavam em colégios públicos ou colégios religiosos. Frutas como banana ,mamão, abóbora e moranga não eram comprados pois a fartura era tamanha que estes alimentos se perdiam ou eram dados para alimentação animal. Maças ,pêras e uvas eram raras e frutas consideradas muito caras.Os refrigerantes só eram consumidos aos domingos e pelas famílias de classe média ou alta. As tardes de domingo para a juventude se concentrava no centro da cidade ou nas praças públicas onde os jovens se movimentavam a procura de algum flerte.E hoje,com as mudanças do modo de vida muitas coisas se alteraram.Em giro pelos bairros de classe média da cidade com Brasil, Vigilato Pereira,Gávea, nota-se casas com altos muros,guaritas de vigilantes,cercas elétricas e câmeras protegendo o alto dos muros.Dificilmente as crianças saem as ruas e ficam lá.Quando saem sempre há algum adulto por perto acompanhando,uma babá de preferência.

A alimentação transformou-se e refrigerantes são ingeridos por todos de maneira mais freqüente,inclusive para classe mais baixa.A variedade de frutas nos supermercados é muito maior sendo que nectarinas ,uvas e até goiabas são vendidas em várias formas e cores.O aumento de fast foods e ingestão de maior quantidade de alimentos calóricos também contribui para a mudança de vida dos jovens.Há um aumento na quantidade de crianças obesas e até spas para relaxamento e perda de peso .Dos 30 maiores spas brasileiros 15 já possuem atendimento a crianças .

Várias fábricas de roupas com forte marketing quase que obrigam o jovem a usar suas etiquetas e quando os pais podem são forcados a comprar,quando não podem os jovens se sentem excluídos por não ter a oportunidade de usar o que para eles é fator de inclusão.O último lançamento de uma grande multinacional do setor de calcados esportivos colocou no mercado uma peça no valor de RS1.200,00. Até fábricas de roupas para crianças de 1 a 3 anos se especializaram,sendo as mais sofisticadas nos preços de RS 300,00 a RS 900,00.

As escolas públicas são freqüentadas pela classe mais baixa e as classes média e alta pagam de RS 300,00 a RS 600,00 por mês para cada filho estudar. As brincadeiras das crianças mudaram com o avanço da tecnologia .Vídeogames computadores,Internet,brinquedos eletrônicos passaram a fazer parte do tempo de diversão. Brincar ao redor de árvores está restrito as crianças que moram na periferia ou aos filhos de que possui uma fazenda.Os namoros entre jovens estão acontecendo mais cedo ,a sensualidade é mais divulgada pela mídia de maneira aberta .O relacionamento sexual entre jovens está acontecendo muito mais cedo e o numero de divórcios aumentando.
Os pais trabalhando fora para prover o lar passam menos tempo com seus filhos . Há uma preocupação por parte destes em colocar seus filhos nas melhores escolas,em fornecer os melhores meios de se ter um bom emprego no futuro.As melhores escolas no olhar dos pais são aquelas que maior conteúdo é despejado nos alunos,as que mais tarefas e pesquisas escolares é para os alunos solicitada,e já no ensino fundamental em reuniões de pais escuta-se comentários em preparar os alunos para o vestibular.Na matéria divulgada pela revista Veja de numero 13 de 5 de abril de 2006,algo está mudando dentro das escolas.Os professores estão se queixando da dificuldade em conseguir manter a disciplina com os alunos.Esta foi a maior queixa por parte dos professores.Nesta pesquisa 22 % queixaram-se deste ponto sendo que neste quesito ,foi dada a falta limite aos alunos o maior responsável por isto. Em pesquisa informal com alunos de uma sétima série de uma escola particular muito conceituada na cidade de Uberlândia, verificou-se que 40 % dos alunos possuíam 3 atividades extra classe como esportes( basquete,judô ,natação,futebol,ginástica),línguas estrangeiras (inglês ),reforço escolar ( kumon),30 % dos alunos duas atividades e 30 % uma atividade extra escolar.Em outra pesquisa informal feita numa escola de línguas também de Uberlândia verificou-se que 50% dos alunos entrevistados possuíam 2 atividades extra escolar,40% duas atividades e 20% duas atividades.A faixa etária destes eram entre 13 a 16 anos.Destes 50 % se preocupam com peso e forma do corpo.No meio deste turbilhão da vida moderna as crianças estão submetidas a uma pressão de ter corpo perfeito,uso de roupas de marca,alta exigência da cognição desde as primeiras etapas escolares.Todos este fatores geradores de estresse grande além de que o índice de divórcio de seus pais estão em níveis em torno de 40% provocam algumas conseqüências , para as crianças nesta situação .Uma delas é o aumento do nível de ansiedade.
Em Artigo da internet do site psiqueweb “Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.
Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, atrelados.
Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a Ansiedade sempre esteve presente na jornada humana desde a caverna até a nave espacial. A novidade é que só agora estamos dando atenção à quantidade, tipos e efeitos dessa Ansiedade sobre o organismo e sobre o psiquismo humanos, de acordo com as concepções da prática clínica, da medicina psicossomática e da psiquiatria.
Nosso potencial ansioso sempre se manteve fisiologicamente presente e sempre carregando consigo o sentimento do medo, sua sombra inseparável. É muito difícil dizer se era diferente o estresse (esta revolução orgânica e psíquica) que acometia o homem das cavernas diante de um urso invasor de sua morada daquilo que sente hoje um cidadão comum diante do assaltante que invade seu lar. Provavelmente não. Faz parte da natureza humana certos sentimentos determinados pelo perigo, pela ameaça, pelo desconhecido e pela perspectiva de sofrimento.


A Ansiedade passou a ser objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência . Assim, o estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, sua correspondência psíquica determinada. O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos eventos do destino em si.
Embora a Ansiedade favoreça a performance e a adaptação, ela o faz somente até certo ponto, até que nosso organismo atinja um máximo de eficiência. À partir de um ponto excedente a Ansiedade, ao invés de contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente para o contrário, ou seja, para a falência da capacidade adaptativa.
Em nossos ancestrais esse mecanismo foi destinado à sobrevivência diante dos perigos concretos e próprios da luta pela vida, como foi o caso das ameaças de animais ferozes, das guerras tribais, das intempéries climáticas, da busca pelo alimento, da luta pelo espaço geográfico, etc.”
Segundo Holmes em seu livro Psicologia dos Transtornos Mentais as causa da ansiedade,na concepção dos teóricos da aprendizagem,esta é uma resposta de medo classicamente condicionada e que um transtorno de ansiedade ocorre quando uma resposta de medo se associa a um estimulo que não provocar medo.As abordagens da aprendizagem ao tratamento da ansiedade são focalizados aspectos fisiológicos da ansiedade,como tensão muscular e freqüência cardíaca .Somos ansiosos porque nosso coração está batendo rápido ,não porque nosso coração está batendo rápido porque somos ansiosos.É recomendado para tratamento da “Extinção da Ansiedade” a técnica de inundação que seria a apresentação do estímulo apresentado várias vezes ao cliente sem razão para ficar com medo.Essas técnica é tão eficiente na extinção da ansiedade que foi eficaz quanto o uso de medicamentos como o Imipramina.
Holmes também cita que a resposta de ansiedade pode ser inibida por uma resposta compatível,especificamente uma resposta de relaxamento.Assim,se uma resposta de relaxamento for equiparada a um estimulo temido a resposta de relaxamento impedirá a ansiedade de se manifestar.Esta técnica é conhecida por dessensibilização sistemática ou contracondicionamento.O procedimento tem 3 etapas ,sendo a primeira ensina-se o cliente a relaxar usando técnicas especificas para isto como relaxamento muscular progressivo.Em segundo um lista de estímulos temidos é compilada em ordem crescente .Em terceiro faz-se associação dos tens 1 e 2.Faz-se o relaxamento e pede-se ao cliente imaginar o item menos nocivo de sua lista de estímulos temidos.

A terceira opção citada no livro ele coloca o uso treinamento de biofeedback associado ao treinamento em relaxamento,sendo criticado por ele que esta técnica não apresenta melhoras a longo prazo.

No livro organizado por Bernard Rangé terapia Cognitivo Comportamental,no capitulo 32 em um texto de Sousa e Baptista sobre terapia com crianças ,é citado que faz-se uma intervenção com crianças diretamente e outra intervenção com a família.No diagnostico é feito ampla avaliação sobre a criança ,a família,a escola e os profissionais que lidam com ele.Em crianças menores usam-se técnicas comportamentais pois sua cognição ainda não está desenvolvida.A cognição irá ajudá-la a reestruturar seus pensamentos ,deve-se basear no empirismo e na observação socrática . É citado a ansiedade da separação que se desenvolve após algum acontecimento estressante da vida.A criança pode-se sentir insegura quanto a sua eficiência em realizar algo e auto imagem irrealista.Em contato com o medo se esquiva,surge insegurança e grande temor do fracasso.
Range cita que as técnicas cognitivo comportamental que podem ser usadas em crianças para tratamento de ansiedade são:
-treino em relaxamento – treino de relaxamento de grupos musculares do corpo trabalhados sistematicamente por meio de tensão e relaxamento.Sugere-se que em crianças seja feito em 3 grupos por sessão e praticá-los em casa seja fundamental.Ela também deve ser ensinada aos pais e irmãos para estímulo.
- reestruturação cognitiva – é a mudança de interpretações distorcidas dos eventos do meio e construção de estratégias de enfrentamento de situações ansiogênicas .
- treino em solução de problemas – o treino tem objetivo de capacitar a criança para agir de forma adaptativa em situações de conflitos :definir o problema, buscar soluções ,avaliar conseqüência ,escolher a mais adequada , avaliar resultados.
- modelação – derivado do paradigma de aprendizagem por observação de modelos desenvolvidos por Brandura.Apresenta-se a criança modelos a qual ela irá por observação aprender a imitar e trazer comportamento benéfico .
- exposição – estratégia de inundação e exposição gradual .

Em outro artigo do site psiqweb cita-se o relaxamento em crianças como prognostico “estima-se que de 10% a 20% de todas as crianças em idade escolar
sofram de intensas dores abdominais recorrentes. Mas muitas crianças
e adolescentes ficam de 13 a 18 meses sem receber tratamento para o
problema, e algumas jamais são tratadas.

Em alguns casos, a dor que não é tratada é tão debilitante que esses
jovens pacientes perdem a escola, aulas de dança, atividades
esportivas e eventos sociais. Elas correm o risco de não
acompanharem o desenvolvimento de outras crianças e adolescentes e
de ficarem para trás acadêmica, física e socialmente.

Especialistas dizem que úlceras, inflamações ou bloqueios
intestinais são as causas das dores em apenas uma pequena minoria de
5% a 10% das crianças.

A maioria delas, ao contrário, sofre daquelas que são denominadas
desordens gastrintestinais funcionais. As mais comuns dessas
desordens são a dores abdominais funcionais, quadros nos quais a dor
é o único sintoma; a síndrome do intestino irritável, que provoca
dores, juntamente com diarréia ou constipação; e dispepsia
funcional, que se manifesta tipicamente na forma de náuseas e
sensação de peso no aparelho digestivo.

Muitas vezes as crianças que sofrem de dores abdominais crônicas são
submetidas a uma bateria de exames invasivos. Elas passam por dietas
restritivas e recebem grandes doses de medicamentos antiácidos ou
antidiarréicos, que podem proporcionar algum alívio para alguns
sintomas, sem, entretanto, nada contribuírem para acabar com a dor.

Algumas crianças ouvem dos médicos que a doença "está apenas na
cabeça", ou que elas estão fingindo.

Segundo especialistas em gastroenterologia, vários médicos não sabem
como tratar as dores estomacais em crianças. "Há várias idéias
incorretas que fazem com que a vida dessas crianças seja mais
difícil", diz Carlo Di Lorenzo, chefe do departamento de
gastroenterologia pediátrica do Hospital Infantil de Columbus, Ohio.

"Os pacientes vão de médico a médico, fazem mais e mais exames, até
que o problema melhore espontaneamente ou que encontrem um
especialista que saiba como tratá-las", explica Di Lorenzo. Na
verdade, existem critérios nítidos para o diagnóstico das desordens
que causam dores abdominais recorrentes, e, para a maioria das
crianças, o diagnóstico pode ser feito sem exames invasivos.

"É um diagnóstico fácil, mas não para os pediatras, porque eles
ainda não têm plena consciência de que o problema existe em crianças
e adolescentes", diz Nader N. Youssef, gastroenterologista
pediátrico do Hospital Infantil Goryeb, em Morristown, no Estado de
Nova Jersey.

Novas abordagens para o tratamento da dor já vêm sendo usados em
adultos, incluindo a terapia cognitiva comportamental; tratamentos
alternativos como técnicas de relaxamento e a terapia de massagens;
além de antidepressivos. Mas essas técnicas não foram amplamente
adotadas no caso de crianças e adolescentes, em parte porque há
poucos estudos que apóiem o seu uso.

Nos últimos anos, no entanto, especialistas começaram a entender
mais coisas a respeito das conexões entre o cérebro e o aparelho
digestivo, uma relação que se reflete em expressões populares como
"uma experiência de revirar o estômago" ou "ter o estômago
embrulhado".

O trato gastrointestinal é repleto de células nervosas e
neurotransmissores. Cerca de 95% do neurotransmissor serotonina
presente no corpo estão localizados no trato intestinal. O estresse,
o nervosismo, o medo e outras emoções freqüentemente têm um efeito
sobre o sistema digestivo. Nas crianças com dores abdominais, o
trato intestinal se torna hipersensível a estímulos. Por exemplo, a
menor quantidade de gases envia uma onda de sinais de dor ao
cérebro.
Porém, à medida que cresce o entendimento a respeito da conexão
entre cérebro e aparelho digestivo, alguns centros médicos começam a
utilizar técnicas como a terapia do comportamento cognitivo, o
treinamento de relaxamento, a terapia de massagem e outras
abordagens alternativas como primeira opção de tratamento.

A eficácia dessas terapias ainda vem sendo debatida, e o número de
estudos que examinam a sua eficiência em crianças é muito pequeno,
dizem os especialistas. Em um estudo publicado na edição de agosto
do periódico "The Journal of Pediatric Gastroenterology and
Nutrition", 18 crianças entre oito e 17 anos que tiveram dores por
cerca de um ano receberam aulas de visualização dirigida e de
relaxamento progressivo.

Após participarem de quatro a nove sessões, 89% das crianças
disseram que a dor fora reduzida, e que o número de episódios de dor
por semana caíra de dois para seis, diz Youssef, principal autor do
estudo. As crianças perderam menos dias de aula, e a sua qualidade
de vida melhorou significativamente.

Concluindo assim este artigo,colocamos as palavras de Rangé,colocando como tratamento para ansiedade de crianças também o tratamento da família pois o meio onde esta está inserida , a maneira como é educada ,os estímulos que a levaram a modelar seu comportamento não devem ser isolados de sua pessoa em si.As técnicas da terapia comportamental são muito úteis para tal fim.


BLIBLIOGRAFIA

1-Holmes ,David S. Psicologia dos transtornos mentais.Kansas,Artes Medicas,1997
2-Rangé,B. Psicoterapias Cognitivo comportamentais.Porto Alegre,Artes Médicas,2001
3-Revista Veja,Editora abril, de 05 de abril de 2006
4-Site www.psiqweb.com.br

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