segunda-feira, 9 de março de 2009

Na sala de aula - poesia

Vejo a folhas miúdas que se agitam por si
e para os outros
na árvore
e um pássaro nela.

Na escuridão da sala vejo uma rainha
que embeleza seu cabelo num grande espelho oval
a escova lhe dá a luz.

Vejo as gotas de chuva da noite e da manhã
teimarem e continuando agarrados na parede

me vejo nelas
e minha vida transborda de água que choveu a noite inteira,fluída.

Eu vejo o que minha alma me permite e me deixa ver

neste deleite de viver
cresce uma compaixão do barqueiro do Hades que leva as almas da vida.

Vejo as fotos de um fotógrafo cego e minha alma permite nelas me extasiar.

De nada eu veria,
se o toque monótono do relógio não me embalasse nesta dinâmica
nem se a chuva não houvesse refrescado o ar de meus sonhos
nem se a rainha não me exibisse sua vaidade
ou se
não houvesse permissão de minha alma
poder ver
pelas minhas lentes castanhas
que me guiam
pelo caminho da existência
a razão de meu viver

e continuo vendo
um cego que sonha com imagens
eu vejo o som do piano que somente toca
a boneca de louça que sofre
e de repente as luzes se acendem
e
então
eu paro de ver .

Sr da vida- poesia

coloco minha vida a seu dispor
tento ser o teu mais fiel servidor
sonho assim
no teu barco jogar a rede
nas tuas viagens
arrumar uma pedra para sua cabeça descansar
pelos desertos
uma fonte de água refrescante sempre penso em querer achar
nas caminhadas prestar atenção nas lições que
das tuas palavras
uma mensagem a escapar
talvez eu consiga
sempre aprender e decorar

e talvez quando partires
poder chorar tua ida
e ver o mundo desaparecer
dizem os outros
o mundo acabar
mesmo que nele
deva eu viver
e viver
e um dia voltar a poder te encontrar

A REVOLUÇÃO DA PEDRAS-METÁFORA (hipnoterapia)

Sobre a cascalheira,o sol dava gargalhadas de cor.A temperatura era muito desconfortante .Os raios do sol ao incidirem sobre as pedras,esquentam-nas, as plantas desidratavam e murchavam,os insetos saiam dali buscando o frescor de qualquer outro lugar.Era uma provação aquele lugar.
As pedras ao receberem a luz do sol esquentam a si mesmas.Quando o sol vai embora,estas pedras começam a esquentar a noite,então os animais que fugiram do calor agora buscam o calor.Fugir e buscar,o jogo da vida das pedras.Há sempre a possibilidade de fugir e buscar.Ficando se queima,não ficando morre-se de frio.A dualidade envolve o universo .
Os cristais reuniram-se em bando.Alguns eram quebrados outros inteiros.Os inteiros não conseguem mostrar sua beleza porque um cristal só é cristal quando quebrado,mas em qualquer lugar ele é cristal.Embaixo da água,num mar de lama.Olhos que vêem cristais o reconhecem e se embelezam,quando estão quebrados.Quando nos quebrar? Os cristais se reuniram para tomar a decisão de embelezar a terra inteira e viver da emoção de amar. No alto da grande pedreira ,as pedras estavam expostas ao sol em confabulação .Eram hialinos cuja luz os atravessava quase intacta,eram os arroxeados,eram os da cor do coração ,eram rosas,eram os da cor do amor incondicional,eram os opacos,eram os foscos,e eram também os intactos,os que não foram quebrados e não sabiam qual beleza era a sua. Não saber qual beleza é a sua pode ser motivo de angustia para um cristal.Por fora é pedra marron ,sem formação de cristal,sem cor de cristal,somente parecido com um pedra qualquer.Mas mesmo sendo como uma pedra qualquer ainda é cristal,na sua constituição.
Os cristais queriam fazer a separação dos belos e dos feios.Grande temor tomou conta da pedreira.A segregação por beleza machuca os sentimentos das pedras. O maior e mais belo tomou a palavra.
Acusou as pedras brutas.
O mais transparente envaideceu-se de sua originalidade,o quartzo rosa gabou-se de sua emoções.
Assim pedra após pedra, todos deram a sua opinião ,pedras bela para um lado,pedras brutas para outro lado.Era a dor de quem vê.A visão pode enganar.
Quando o frio do inverno debruça-se sobre a pedreira ,as pedras diminuem de tamanho,mesmo que milimetricamente.É o fenômeno da contração .
Quando o sol surge as pedras esquentam-se e aumentam seu tamanho.É o fenômeno da dilatação.
As pedras crescem.Todos podem crescer,mesmo que não percebam seu frio ou seu calor.Tantos momentos de crescer e de não crescer,de diminuir e crescer,da chuva e do sol,dos animais que pressionam,dos microorganismos que atuam dia a dia,da vida ,até um dia,um dia a pedra de cristal abre um primeiro,imperceptível, trincado, na sua camada externa.A parte grossa de pedra abre-se ao exterior para a beleza sair.
A beleza irá salvar o mundo.
Ela deve habitar o exterior,ela deverá habitar o interior.Assim,ano após ano,séculos de crescer e de diminuir,o cristal se abre e mostra sua cor,sua transparência ,o formato de seus desenhos.A pedra , de bruta passa a ser bela, e partida.
Ela foi sempre bela. Agora reconhece-se .Cristais não tem a capacidade de verem-se como são por dentro.É necessário muito tempo de noite de frio e dias sol para se abrirem.A abertura para a beleza.A percepção da eterna beleza,desde sua constituição .
Ser belo.
A beleza é saber perceber-se como é.O respeito de ser como é.
E então o mundo das pedras continua a ser duro,quente,frio,embora repleto de muita beleza,para quem percebe a beleza.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Video Jorge Aragão, Ave Maria

MUITAS VEZES A GENTE FAZ HOMENAGENS ÀQUELES QUE NOS SÃO ESPECIAIS, AO LACORDAIRE ABRÃO FAIAD, ALÍRIO CERQUEIRA, E TODOS DA FEEMT, AO NEUBER ...

quarta-feira, 4 de março de 2009

VIDEO EL NONINO


http://www.youtube.com/watch?v=QCmP4bEJfOg

a despedida da equipe da UTI-UFU-hospital de clínicas


Borges
link abaixo entrevista na rede globo com Monica Cunhadezembro 2012
O link pra entrevista
http://redeglobo.globo.com/mg/tvintegracao/bemviver/videos/t/edicoes/v/assuntos-inacabados-como-identificar-e-tirar-esse-peso-das-costas-no-bem-viver/2318765/
Povo da UTI,
Zé Bob está ” parando”.
Passar 12 meses com vocês foi como velejar em águas misteriosas, em locais onde nunca estive, observando o enriquecimento meu e seu,
e deles.
Oportunizaram-me ver a senhora morte de perto, bem perto. Vi bem dentro de seus olhos. Senti seu cheiro e divaguei-me sobre os caminhos por onde ela trilha, sentindo a cor necessária da palidez daqueles que partiram , abraçando o verbo da entrega.
E também pude ver a senhora vida de perto. Transbordei-me em sua cor brilho, o desafio de continuar, a insistência da técnica, a volta.
Eu também pude notar vocês bailando ao som dos aparelhos dos pacientes, respiradores, monitores. Seus sonhos, vitórias, sempre disputando com a fadiga do corpo uma vaga na sua tela mental. Notei seus desdobramentos em cuidar de outros seres humanos, candidatos a seres felizes que somos. Parabéns .
Se eu puder escolher qualquer palavra para colocar aqui neste papel eu escolheria algo que passasse a vocês a idéia de “gratidão “.
A gratidão por ter a oportunidade de colocar as violetas num local, onde nunca param de florescer. A oportunidade de sentar com aqueles chorosos ansiosos, e deles retirar lágrimas e soluços, caminhando passo a passo rumo a qualquer aprendizado das dores que nos chegam. A oportunidade de tomar sorvete nos plantões de domingo. A oportunidade de acessar minha dor de impotência, quando a psicologia, ou a minha psicologia falha, e a gente olha ao redor percebendo que somos ainda tão pequeninos.
Assim, meus queridos irmãos de caminhada, deixo aqui forte abraço, em toda a equipe, orando ao Sr da vida, para que suas vidas possam estar sempre enriquecidas por viagens em águas misteriosas, e que seus olhos possam perceber belezas, e estas paragens ajudem vocês nas suas construções de si mesmo.
Estagiário de psicologia

Metáfora- Pingo de chuva

Numa nuvem do céu morava um pingo de chuva.Ele considerava aquela moradia, aquela nuvem, um ótimo lugar para se estar. Era uma nuvem muito branca , fofinha e agradável. De lá o pingo de chuva podia ver de perto o grande sol, bem amarelo e brilhante.Como ele era belo. Também do alto podia se ver o verde das matas e o marrom das montanhas que se misturavam com o verde das matas.Era uma vista surpreendente.E mais ,daquela nuvem também podia se ver o azul profundo do oceano com suas ondas brancas que dobravam a cada movimento. Era uma vida tranqüila,viver ali, daquela nuvem. Observar o nascer do sol ,sentir o movimento fresco dos ventos alísios,admirar a lua.- Uau,aquilo era uma vida!!!

Um dia a temperatura quente do ar mudou.Sua moradia se escureceu. Esfriou, e tudo estava estranho. Algo estava no ar.A gota de chuva então sentiu que uma força diferente conduzia a situação a uma mudança.Ela sentiu medo . Era um frio na barriga. Com o frio ele sentiu-se pesado.E mais ,mais,mais pesado. Tão pesado que a força da terra o puxava para baixo.O pingo se agarrou com suas forças para preservar a tudo que ele tinha . Não queria sair de seu paraíso ,de sua nuvem. E então aquela grande força o puxou para baixo. Começou a cair com uma velocidade pequena e depois foi crescendo a descida. As coisas estavam confusas.Como elas estavam confusas. O novo caminho a percorrer,a saída de sua proteção ,a velocidade, o movimento do ar.Era aterrorizante . O pingo de chuva desceu ,desceu ,e desceu.Assim ele notou que descer era só descer. E com o tempo seu medo foi se transformando em um sentimento melhor,era só um friozinho na barriga.Agora ele podia sentir a velocidade de cair e aquilo era muito diferente.Era incrível.Além da velocidade, novas moléculas de ar ele tomava conhecimento.E também a visão sobre a terra mudava,aumentava.O pingo de chuva se permitiu a nova experiência. Aquilo estava sendo fascinante,se permitir abandonar sua vida antiga e dar espaço para outra vida.Ele caía , caía, caía e desfrutava de sua nova vida. Quando então do solo ele se aproximava ,se aproximava e se aproximava. O pingo de chuva viu por mais uma vez a situação se alterar. Não, frio na barriga não pensava. Aquela força estranha que parecia que era sobrenatural e estava sendo cúmplice novamente da mudança da situação o envolvia.De repente:
- splash,ele se arrebentou na terra. Foi um grande choque .O pingo de chuva sentiu seu corpo em contato com grãos de areia.Aquilo para ele era novidade.Um grão de areia a me envolver.Novamente ele estava desfrutando de uma oportunidade de experienciar uma situação . Já um pouco mais experiente,deixou-se levar protegidamente, sem perder a noção de que era água , que era pingo, que a força misteriosa abria a ele mais um aprendizado.Ele seguiu sua consciência harmonicamente. Aquilo o conduzia . O pingo de chuva começou a entrar no meio dos grãos de terra.Conheceu a escuridão .Conheceu a parte escura da terra e descobriu que lá existem seres vivos que desfrutam daquele lugar.Sentiu-se absorvido por algo piloso e também vivo,mas muito vivo.Era uma raiz.Ela o conduzia a canais finos.Ele experienciou seu corpo de pingo agora moldado em forma de tubo. Não mais lutando com as mudanças,agora aproveitava sua viagem de vida e sentia vida na proteção do desafio.Sentia –se subir.Mas pingos de chuva não sobem.Ele estava subindo. Não era maravilhoso? Foi deslocado até uma folha murcha na ponta de um galho.Chegou lá e fez vida na folha.Como é bom seguir o destino de um pingo de chuva. Fazer o que deve ser feito,confortavelmente.A folha ficou tão feliz com a água que a mantinha viva que no primeiro raio daquela lua ,uma lua feita de prata polida com as unhas do lobisomens das lendas da avós de colo macio.Aquela lua era a moldura para o choro da folha.A folha chorou de felicidade pois fora socorrida pela água da chuva.Ela chorou e chorou.Que choro bom,protegido.Agora podemos ver nosso pingo de chuva dependura na ponta da folhinha verde.Uma transformação .Ele era agora uma gota de orvalho,e foi crescendo até que a força misteriosa que governa as gotas de orvalho o sugasse para a terra novamente.As gotas de orvalho se uniram no solo,e se uniram também as gotas de chuva.Eram um pequeno córrego.Andavam em grupo,lambiam as raízes das plantas que moravam em seu leito.Assim todas as gotas iam se aglutinando,eram córregos,riachos,rios. Nosso pingo de chuva chegava ao mar.Quantos irmãos estavam ali pensavam ele.Será que passaram por medos como ele? Percebia assim que as experiências eram parecidas mas cada um possuía sua própria história e aprendizado.
Naquela manhã ,um vento forte e quente assoprava fazendo o mar ter cheiro.Era cheiro de mar e sol.O sol também pode ter gosto de mar.Aquele vento arrancou o pingo de chuva e fez ele subir.Subiu como nunca e voltou a ser nuvem.De volta ao seu lar,na nuvem branquinha e fofa ele pensou:
-Nossa ,pingo de chuva também tinha medo de chuva forte!
Começou a esfriar,uma força poderosa começou a alterar o ambiente.
As nuvens se escureceram.
O pingo de chuva sabia que ser a água tem que sua importante missão no mundo dos vivos,ser água e agir como água.
Lá do solo a plantinha pode ver um pingo se atirar de uma nuvem,confortavelmente,protegidamente,naturalmente, de uma nuvem do céu em direção àquilo a que viemos .

Poesia - TERRA

minha mãe
tens silêncio esplendor
e não consigo ouvir-te
por maior esforço ,que me prometo fazer

peço aos pássaro e ao vento
que silenciem a voz
somente para posteriormente
poder detectar seu som

em vão

sei que engole e abafa o som dos mortos
que são depositados no teu ventre
será que tu os silencia ou que os libertas?

Será que eles conseguem ouvir-te quando são encobertos enterrados?Os invejo assim

Mas por que tentar ouvir te?
Rodopias conosco desde nossos nascimentos
Refletes a luz solar
Sugas a água da chuva
Mesmo sendo marrom
Colore o verde das árvores e
Azuleja os oceanos

Como não te escutar?
Piso em ti em meus movimentos
Descanso sobre seus membros
Excreto sobre teus poros
E não te escuto

E tu,me escutas?

Poesia-Sensibilidade

parece que a cor laranja se misturou ao roxo
por sobre o lago
quase congelado na manhã que desperta enfumaçada
as primeiras cores da aurora afugentam a noite
e a água que pára
no filme imóvel
que se forma aos meus olhos
e arrepia minha pele
faz me lembrar de sua sensibilidadedo
lago refletor dos mistérios de Ti
é tanta tua sensibilidade
é a asa da libélula
que teima em flutuar
despencando pelas moléculas do ar da manhã
toca de leve após o pouso
a água gelada do lago
refletor de Ti
e vem o movimento
e vê o movimento
em ondas simétricas
no limiar do sentir
comparo-te ao vento quente que sobe da terra rumo ao céu
toca arrancando as sementes de dente de leão de seu cálice,que as elevam em rodopios e liberdade
após o sopro que vai, teimam agora em cair
e novamente tua sensibilidade me espanta
não sei se és mais a superfície da água do lago frio ou a asa que cai
mas ambos tocam meus sonhos
a folha na madrugada
encorpada com água na ponta uma gota orvalho
dependurada ao menor toque a queda
e ela continua dependurada talvez esperando o movimento que a fizesse precipitar
Tocas aqui simplesmente com o balançar de cabelo
Num gesto de espanto,num curvar de pescoço
quando me mostras a outra face inocente
que fico a admirar.
© TERAPIA E VIDA
Maira Gall