domingo, 30 de dezembro de 2018

Bird Box, uma visão psicológica

Netflix lançou em dezembro de 2018 excelente filme chamado Bird Box, que eu muito recomendo a você que curte suspense, ação e movimento, com um grande toque de bom senso e inteligência, mesmo que o filme seja ficção.

Mas não vou comentar o filme em si, mas aspectos interessantes que minha mente de psicólogo me trouxe durante  o tempo que me permiti assistir e desfrutar o filme.

Quando nossa espécie surgiu na Terra, a uns 100.000 anos, os sapiens que possuíam a ansiedade em seu sistema de defesa, de luta e fuga, quando numa percepção de ameaça produzia adrenalina, cortizol, preparando seus corpo para lutar, na dilatação das pupilas, acelerando o coração, reduzindo diâmetro das artérias nas extremidades do corpo,  oxigenando os músculos e dando maior velocidade de circulação sanguínea com objetivo de preparação a rápidos movimentos.
Este estado de alta vigilância é o estado que Sandra Bullock manteve durante grande parte do tempo para sobreviver. Você imagina viver sem poder olhar para o mundo, ou se olhar, uma coisa espiritual, monstruosa te obriga a cometer suicídio? Quer situação mais ansiogênica que isso? Estes fatores de produção de defesas foram tão enormes que ela criou seus filhos tratando os pelo nome de garoto e garota, e não pelo nome, José, Maria...

Interessante que vemos também o duelo entre a genética e o aprendizado
do cultural de cuidar uns dos outros. A genética nos convida a sobreviver custe o que custar, nos leva a aflorarmos nossa porção cognitiva da sociopatia, da esquizoidia, da dependência. Temos comportamentos de defender nossa vida custe o que custar, de matar, roubar, manipular o grupo, de impor ao grupo. Em Bird Box vemos isso nos momentos em que estranhos tentam entrar na casa onde o grupo e defendia, quando o casal rouba o carro e foge, quando apontam armas em direção  uns dos outros, quando é necessário sacrificar uma criança de 3 anos para que a outra sobreviva. Então concluimos que somos animais puros, inicialmente, nosso cérebro tem muito disto, pois ele pouco mudou de 100.000 anos para cá, mas a vida atual é completamente diferente de quando a espécie sapiens apareceu na Terra.

E você pode se revoltar contra mim, e até ficar com raiva, e até me excomungar, e até achar uma tolice, mas em meios a cenas de pessoas se jogando embaixo de ônibus, notamos que nosso sistema límbico associado ao aprendizado cultural de amar, de cuidarmos, de proteger o grupo existe e se impõe nas cenas, quando há tempo para isso. É bom notar isso. O amor realmente existe no filme, e Sandra Bullock não sacrifica a menina, nem o grupo exila as grávidas mas acolhe os fracos, mesmo que isso custe a vida de 90 % deles.

O amor venceu a genética.
É o que mais notei quando assisti o filme, entre a sobrevivência bruta e inimigos sobrenaturais, quem vence realmente são os deficientes visuais, que irão criar um novo mundo ensinando aos videntes as habilidades que não possuímos, e se a civilização luta pela igualdade de direitos, protegendo-os, quando o mundo mudar, eles serão nossos professores.

bom filme, e chega de psicologia!!!
© TERAPIA E VIDA
Maira Gall