sábado, 2 de junho de 2012

homenagem ao terapeuta

ser psicologo

Quando saio da última sessão do dia
fecho as portas da clínica a noite
escuto as almas dos vizinhos se aquietarem
buscando merecido repouso
barulhos nos lares
as vezes a noite tem estrelas
as vezes tem lua
as vezes tem nuvens

o cheiro é o mesmo

a sensação de ser passado dentro de um triturador humano
vão comigo,
as dores e sonhos que se passaram entre
meus pacientes e a terapia em si

este trabalho é visceral, penso satisfeito
é como eu precisasse passar por tudo isto
e tudo bem!

é como se a terapia deslocasse meu coração de lugar
para onde vai eu não sei

não pego o carro
naquele dia caminho olhando o chão
enfio a mão no bolso
descendo a rua
possibilitando intimidade com minha esquizoidia

olho para uma varanda e vejo uma senhora velhinha de uns 90 anos
ela sentada na cadeira espreguiçadeira
curvada, a pele seca, o nariz adunco, cabelos espetados e seus olhos brilham atentos

me vejo no futuro
após o massacre de cada dia
deslocando meus neuronios de lugar
parece que eu vim para isso

sigo no caminho de saber que minha impotencia diante do mundo deve ser amadurecida
embora não queira que seja assim

caminho mais um pouco
respiro o cheiro da cidade que adormece

sorrio,

ser ponte
entre o que se é e o que se quer ser
pontíficie

retorno ao lar
levo para o travesseiro
tudo isto

minha vida, vida deles, o passado, as sessoes de amanhã.

boa noite!

© TERAPIA E VIDA
Maira Gall