sexta-feira, 22 de julho de 2016

TRANSTORNO DE ANSIEDADE

Neste grupo de transtornos mentais a ansiedade representa o sintoma principal ou a causa de outros sintomas apresentados pelo sujeito. Embora a ansiedade apareça em uma série de outros transtornos, nos transtornos de ansiedade, a ansiedade é o sintoma primário ou a causa primaria de outros sintomas enquanto em outros transtornos a ansiedade é decorrente de outros
problemas. Como por exemplo na depressão a ansiedade pode ser decorrente da crença que o sujeito tem, de que será punido por Deus porque não se sente digno de praticar a comunhão.
Ou como no caso do esquizofrênico que acredita estar sendo perseguido por espiões russos que querem roubar suas idéias. Nestes casos a ansiedade pode ser considerada como secundaria enquanto que nos transtornos de ansiedade é primaria.

A ansiedade é talvez a resposta mais comum ao estresse. Manifesta-se como uma desagradável emoção de apreensão ou medo de que alguma desgraça futura poderá ocorrer. A ansiedade pode ser entendida como ansiedade somática quando os sintomas fisiológicos do estresse, tais como as respostas de ativação do sistema simpático, são preponderantes. Pode ainda ser chamada de ansiedade cognitiva quando envolve sintomas como preocupação, sentimento de pressão, frustração e preocupações sobre fracasso. Quando a ansiedade se apresenta como uma característica relativamente duradoura no indivíduo ela pode ser chamada ansiedade-traço, mas quando ela é limitada a um momento ou situação particular, podemos chama-la de ansiedade estado. Cabe ainda diferenciar o que se entende por ansiedade do que se entende por medo. Ambos os termos refletem um mesmo sentimento, que quando se refere a uma ameaça da qual temos conhecimento podemos nos referir como medo, mas quando não sabemos o que está nos incomodando, referimo-nos como ansiedade.

Pesquisas atuais com Tomografia Computadorizada por Emissão de Positrons, tem permitido relacionar a ansiedade com os gânglios basais , que são um conjunto de estruturas grandes localizadas no centro do cérebro e que cercam o Sistema Límbico. Os gânglios basais estão envolvidos na integração dos sentimentos, pensamentos e movimentos bem como na modulação da motivação e dos sentimentos de prazer e êxtase. Quando os gânglios basais estão hiperativo os indivíduos podem sofrer de: ansiedade, nervosismo, ataques de pânico, sensação física de ansiedade, tendência para prever o pior, fuga do conflito, motivação baixa ou excessiva.
Holmes classifica os sintomas de ansiedade em quatro categorias:

 Sintomas de Humor: Consistem principalmente em ansiedade, tensão, pânico e apreensão. O sofrimento individual que advém da ansiedade tem o sentimento de condenação e desastre iminentes a partir de alguma fonte especifica ou desconhecida. Podem ocorrer ainda a depressão e irritabilidade como sintomas secundários, porque se originam da ansiedade.

 Sintomas Cognitivos: Refletem a apreensão e preocupação sobre a condenação que o indivíduo antecipa. Alem disso porque a pessoa está focalizada em desastres potenciais a pessoa não presta atenção aos problemas reais próximos; portanto é desatenta e distraída. Em conseqüência da focalizarão inapropriada da atenção, o indivíduo muitas vezes não trabalha nem estuda eficazmente, o que pode se somar às ansiedades.

 Sintomas Somáticos:
 Sintomas Imediatos: Consiste em suor, boca seca, respiração curta, pulso rápido, aumento de pressão sangüínea, latejo na cabeça, tensão muscular. (hiperventilação).

 Sintomas atrasados: Ocorrem quando a ansiedade é prolongada e consistem em; pressão sangüínea cronicamente aumentada, dores de cabeça, fraqueza muscular e sofrimento intestinal (má digestão, cólicas estomacais) podem se estabelecer. Tais sintomas refletem fadiga ou colapso do sistema fisiológico originando-se da estimulação prolongada.

 Sintomas Motores: è comum que os indivíduos ansiosos exibam impaciência, inquietação, atividade motora sem objetivo como movimentos rápidos com os dedos das mãos ou dos pés e respostas de susto exagerado a ruídos súbito.


CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Transtornos Fóbicos Estados de Ansiedade
Agorafobia Transtorno de Pânico
Fobia Social Transtorno de Ansiedade generalizada
Fobia Especifica Transtorno de estresse pós-traumático
Transtorno obsessivo-compulsivo
Transtorno de estresse agudo

 Transtornos Fóbicos:

 Definição: Fobias são medos irracionais de um objeto atividade ou situação especificas.
 Agorafobia: Medo de estar em ambiente público dos quais poderia ser difícil escapar se o indivíduo subitamente se tornasse ansioso.
 Fobia Social: Medo irracional do indivíduo de que se comportará de uma forma constrangedora e então será criticado pelos demais.
 Fobia especifica: Medo irracional em relação a um objeto ou situação diferente de multidão e critica pessoal. Ex: Avião, elevador, espaço fechado, barata, cachorro, sangue, etc.

 Estados de Ansiedade : A resposta emocional é difusa e não relacionada a qualquer situação ou estímulos particulares.
 Transtorno de Pânico: Breves períodos de ansiedade espontânea excepcionalmente intensa.
 Com Agorafobia: Entre os ataques o indivíduo fica freqüentemente ansioso em relação a possíveis ataques iminentes
 Transtorno de Ansiedade Generalizada: Envolve ansiedade persistente e geral que dura pelo menos um mês e não está associada a nenhum objeto ou situação em particular.
 Transtorno do Estresse Pós-Traumático: O principal sintoma é a reexperiência de um evento traumático, que pode assumir a forma de memórias dolorosas recorrentes do evento, sonhos ou pesadelos recorrentes sobre o evento ou flashbacks, em que, por algum período de tempo o indivíduo revive o evento e se comporta como se estivesse experimentando o acontecimento naquele momento.

 Transtorno Obsessivo-Compulsivo: Envolve obsessões ou compulsões recorrentes ou ambos.

 Obsessão: É uma idéia, pensamento, imagem ou impulso persistente que o indivíduo não consegue tirar de sua mente.
 Compulsão: É um comportamento realizado repetitivamente de modo esteriotipado.

 Transtorno de Estresse Agudo Envolve um período de ansiedade intensa com duração de aproximadamente um mês ou menos. Pode se originar de algum fator situacional ( ataque ,estupro) e se não tratado poderá levar ao transtorno de estresse pós-traumatico.

O Manejo e Tratamento da Ansiedade

As Representações Mentais:
Não temos acesso a realidade senão por intermedio de nossas “Representações Mentais” que é o modo através do qual interagimos com nosso ambiente físico e social. Nosso “Sistema de Crenças” contem portanto o universo de todas as relações que estabelecemos com nosso mundo vivencial. Neste sentido, o “Sistema Representacional” ou “Sistema de Crenças”, atua como um óculos, uma lente através do qual enxergamos nossa realidade. Ele é mais que um “Mapa” através do qual lidamos com o “Real”. Para cada pessoa, seu “Sistema Representacional” é a própria realidade.

O “Sistema Representacional” de uma pessoa é construído a partir de suas experiências vivenciais. Contem portanto o conjunto de todas as aprendizagens, consciente e inconsciente, que o indivíduo adquiriu ao longo de sua história de vida. Se os processos que ele utilizou para enfrentar as incontáveis situações de estresse de sua vida foram satisfatórios, ele poderá contar com um “Sistema Representacional” rico e extremamente útil. Caso contrario, se seu “Sistema Representacional” estiver muito empobrecido por distorções, eliminações e generalizações grosseiras, ele poderá se meter em grandes apuros e sofrer muitas limitações.

Os Pensamentos Automáticos Negativos:
São algumas maneiras através dos quais podemos empobrecer nosso “Sistema Representacional” Portanto é importante conhecer, desafiar e modificar essas maneiras habituais e limitadoras de construir-mos nossa realidade, para que possa-mos enfrentar ou lidar com muito mais facilidade os diferentes estresses com que nos deparamos quotidianamente.
A ansiedade e o medo, principalmente ansiedades e medos patológicos, são produzidos por estas maneiras limitadoras e defeituosas de se pensar nossa realidade vivencial. Neste sentido, os “Pensamentos Automáticos Repetitivos” são verdadeiros patógenos na formação de nossa consciência. Vamos conhecer alguns destes patógenos capazes de produzir muita ansiedade, medo e distorção de nossa realidade:
 Pensamento sempre/nunca:
Este pensamento ocorre quando você pensa que alguma coisa que aconteceu vai “sempre” se repetir ou que você nunca vai conseguir o que quer. Este tipo de pensamento está muito ligado a generalizações grosseiras, que é profundamente limitador e capaz de gerar emoções de medo e de tristeza. Pensamentos do tipo: “Ele sempre me diminui.”, “Ninguém vai telefonar para mim”, “Eu nunca Vou conseguir um aumento”, “Todo mundo se aproveita de mim”, “ Meus filhos nunca me ouvem”.
Estes pensamentos são muito comuns e é preciso estar atento para desafia-los e verificar se eles refletem realmente nossa realidade vivencial. Um único exemplo que o contrarie é capaz de faze-los desmoronar, como por exemplo: “Descobrir alguém que não está querendo se aproveitar de mim” ou em que situações “Meus filhos me ouvem”. Como na maioria das vezes, não temos consciência destes pensamentos automáticos, eles podem produzir grandes estragos em nossas vidas.

 Concentrando-se no negativo:
Consiste em ver só o lado ruim de uma determinada situação. Este tipo de pensamento automático, impede a pessoa de uma percepção mais ampla, que lhe permita descobrir aspectos favoráveis e positivos que equilibrem a situação. “O que mais importa, não é exatamente o que acontece com a gente. Más principalmente aquilo que fazemos com o que nos aconteceu”. A utilização das técnicas de visualização para se descobrir os aspectos favoráveis de uma determinada situação, pode ser uma de grande ajuda no combate a ansiedade.

 Previsão do Futuro:
Consiste em prever o pior resultado possível de uma situação que não aconteceu e que provavelmente jamais irá acontecer. A origem de muitos episódios de ansiedade podem ser encontrados nestes tipos de previsões negativas. Este tipo de pensamento é a base para a produção de profecias auto-realizadoras negativa. Ao prever que algo negativo irá acontecer, nós nos predispomos inconscientemente a fazer com que isto de fato venha acontecer

 Leitura da Mente:
Consiste na previsão do que os outros estão pensando ainda que eles não lhe tenham dito nada sobre o assunto em questão. A leitura da mente é uma das causas mais comuns das dificuldades nos relacionamentos interpessoais e pode produzir muita ansiedade e sofrimento. É também um grande obstáculo na construção de um repertório mais favorável de comportamentos assertivos.

 Pensando com suas sensações:
Consiste em acreditar em suas sensações negativa sem nem mesmo questiona-las. Por exemplo: “Eu tenho a sensação de que ninguém jamais confiará em mim”. Sempre que tiver uma forte sensação negativa, cheque-a. Procure as provas que existem quanto a estas sensações. Você tem razões verdadeiras para ter essas sensações? Suas sensações são baseadas em eventos ou coisas do passado? O que é verdade e o que é só uma sensação?

 Torturando-se com a culpa:
A culpa normalmente é imobilizadora e improdutiva, em vez de levar o indivíduo a canalizar seus esforços no sentido de corrigir o erro cometido ou aprender com o erro. Sentimentos de culpa acontece quando se usa palavras como: deveria, preciso, poderia, ou tenho de. Exemplo: “Deveria ter dito isto”. “Eu preciso passar mais tempo com minha mãe”. “Eu tenho que estudar mais”. A mente humana funciona principalmente guiada pelo principio do prazer, portanto se substituirmos as ordens torturantes de culpa por afirmações Eu quero, Eu desejo, É útil, será mais fácil de atingir nossos objetivos e aprender com o erro.
 Rotulação:
Consiste em colocar um rótulo negativo em si mesmo ou em outra pessoa. Os rótulos cristalizam uma característica na pessoa rotulada e o torna cego para perceber outros aspectos incoerentes com o mesmo. Exemplo: “frigido”, “tonto”, “arrogante”, “irresponsável”. Rotulos negativos são prejudiciais porque sempre que você chama outra pessoa de tonto ou arrogante, você generaliza essa pessoa em sua mente, e se torna incapaz de lidar com ela como pessoa única. Quando você coloca o rótulo em si mesmo, acaba assumindo uma identidade do qual se tornará escravo.

 Personalização:
Consiste em colocar em eventos inócuos um significado pessoal. Quase sempre consiste em estabelecer uma relação causal muito enganosa. Exemplo: “Minha amiga não falou comigo hoje. Ela deve estar brava comigo”. É impossível saber porque as pessoas fazem o que fazem, portanto como no caso da leitura de pensamento é importante aprender a ser assertivo. Outro aspecto importante é saber que na maioria das vezes as pessoas estão envoltas em seu próprios problemas.

 Culpar os outros:
Consiste em culpar outras pessoas por seus próprios problemas. A culpa é muito limitadora e imobilizadora, quando se culpa alguma coisa ou alguém, tornamo-nos vitimas passiva das circunstancias e incapazes de assumir-mos a responsabilidade de resolver a situação. O jogo da culpa prejudica o senso pessoal de poder e arruina a relação.

Os pensamentos automáticos negativos precisam ser combatidos com muita freqüência e intensidade para que se possa construir uma Realidade Representacional mais satisfatória que lhe permita uma melhor qualidade de vida. Tomar consciência destes pensamentos automáticos, desafia-los, substitui-los por outros mais saudáveis, usando os relaxamentos e visualizações, pode fazer com que nos tornemos pessoas melhores e mais felizes.


Referencias Bibliográficas
resumo do livro Daniel G. Amen
resumo do livro Holmes

Daniel G. Amen : Transforme seu Cérebro Transforme sua Vida, Ed. Mercurio, S P 2000.
Holmes : A Psicologia dos Transtornos Mentais, Ed. Artimed 1997.

TEXTO DO PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA,MILTON VICENTE FERNANDES
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Maira Gall