num dia de maio, perguntei a laranjeira qual o sentido da vida
ela me disse que era para colocar seus frutos bem lá no alto, nas grimpas,
para que nos dias de frio eles pudessem receber a luz juntamente com as folhas
embelezando o pequeno pomar que habitavam
não satisfeito me voltei ao céu azul de outono e fiz a mesma pergunta
ele me respondeu que viver é manter-se bem azul, para que no momento exato que
dormisse o sol
aquele poente fosse o mais belo
o mais admirado
pelos olhos sensíveis daqueles que se moviam cansados em direção a seus lares
após um dia de trabalho
eu estava igual
sem a resposta que me satisfizesse
então fui ao leito de rio e
jogando uma pedra derrapadeira de água
exigi minha resposta
já mergulhados em raiva e inquietude
o manso rio nada me disse
somente me olhou
e baixou sua cabeça voltando-se mergulhado seguindo seu caminho
borbulhando os ruídos que hipnotizavam pescadores e nadadores que
em suas águas
nos domingos
extravasam suas rotineiras frustrações
voltando para casa sujos aliviados
ainda não sei da resposta do sentido da vida
acho que tamb[em n'ao encontrarei
mas construirei
ensaios
e você?
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