Eu me lembro da primeira vez que beijei uma mulher
numa festa de muito tempo
senti um misto de dor e aventura
quando a vida me mostrava emoções diversas
ensinando-me sua marca
as emoções tremedeiras
encostava-me na pele dela a fina pele de meus lábios.
E eu a deixei partir
em seu sorriso doce me disse adeus
e foi saindo
como uma nuvem que perde sua individualidade
e se mistura ao céu
camuflando-se de foliã
ainda com pescoço estendido e olhando para trás
me observando.
Desapareceu para sempre,
criando sua individualidade eterna em mim
sumindo de minha adolescência
e o remorso ainda hoje me pergunta
-Por que deixou, ela, partir tão rápido?
E eu olho a minha inexperiência.
II
Eu me lembro da primeira vez que fui pai
num hospital isolado do mundo
no canto silencioso receber em verdes panos
as fitas dos lábios dela
me ensinando outra dimensão
senti dor e aventura
país inexplorado da paternidade
tremi com ela em meus braços
quando a embalava ,
seu olhar perdido embaçado e vago
na docilidade de seu cheiro de primeiro dia de vida.
O remorso me perguntou
Por que não a embalaste mais?
Olhei para minha pequenez
III
Eu me lembro da primeira vez que o câncer entrou em meu lar
chegando do modo mais traiçoeiro
e dormiu na minha cama
muito tempo ao meu lado
no seio direito de quem mimou meus filhos
senti dor e aventura
mergulhando-me no verdadeiro papel do cuidador
ele adormeceu ao lado de seu coração
sentiu-se a vontade ali
distraidamente se multiplicou
até que
Fora arrancado numa manhã de feriado de junho
levando junto os músculos alimentadores de meus rebentos
sustentadores da sensualidade
IV
Eu me lembro da primeira vez que enfrentei uma grande empresa Unimed Londrina
sua covardia ameaçava a quimioterapia de minha companheira
senti um misto de dor e aventura
atravessado pelas espadas do mau senso
vi-me pequenino e minúsculo diante da frieza do pensamento capitalista reducionista
Mas
agigantei-me na emoção que me move
tremi de coragem
nadei em adrenalina
não dormi,
nem admirei estrelas amigas
como se fosse vingador sedento, na barbárie do século XXI
o remorso nunca me perguntou a razão de minha batalha
quando nem forças mais havia em mim
Queria soprar o valor de justiça
v
Eu não me lembro a primeira vez que um amigo me ajudou
Não senti dor nem aventura
Somente percebi que estavam ao meu lado
Sem falar, sem olhar
mas estavam ali
e agora percebo mais que nunca
que mais importante que a morte ou a vida
que a cura ou a doença
que a aprovação ou a reprovação
são os esforços que fazemos para alimentar os sonhos dos que estão ao nosso lado
proporcionando ao amigo
nosso tempo,
nosso esforço
e cultivo uma grande gratidão por isto
e qualquer dia poder te falar pessoalmente
sobre minha gratidão a você.
obrigado
sábado, 5 de setembro de 2009
Metáfora e metástase,resumo do câncer II
e o melhor de toda esta volta,
é,
que a dor não precisa ter dor!
sofre-se sem sofrer,
está-se dentro do triturador
e a gente somente olha ao horizonte
de qq local
bem longe
tão longe que apertamos os olhos pra
ver
e esticamos o pescoço
pra escutar
e sente, vê, escuta,
o triturador picar a nossa vida
faz aquele terremoto
mas não dói!
arrebenta tudo
revoluciona,cria,descria,arranca quantas lágrimas forem necessárias
coloca em xeque o que sonhamos
e tudo o que ocorre é
que saimos na ponta
e não dói!
não sei porque
não quero saber
sei que minha plenitude diante de tudo isto
é estar ao lado
e passar as mãos sobre sua cabeça
já sem cabelos
e vê-la
pela primeira vez
seu couro cabeludo
agora desnudo e a mostra
onde tanta vez
buscou o aconchego em meus ombros
só oportunidades peço
antes a fartura
que a miséria
quero me permitir
te acompanhar
é,
que a dor não precisa ter dor!
sofre-se sem sofrer,
está-se dentro do triturador
e a gente somente olha ao horizonte
de qq local
bem longe
tão longe que apertamos os olhos pra
ver
e esticamos o pescoço
pra escutar
e sente, vê, escuta,
o triturador picar a nossa vida
faz aquele terremoto
mas não dói!
arrebenta tudo
revoluciona,cria,descria,arranca quantas lágrimas forem necessárias
coloca em xeque o que sonhamos
e tudo o que ocorre é
que saimos na ponta
e não dói!
não sei porque
não quero saber
sei que minha plenitude diante de tudo isto
é estar ao lado
e passar as mãos sobre sua cabeça
já sem cabelos
e vê-la
pela primeira vez
seu couro cabeludo
agora desnudo e a mostra
onde tanta vez
buscou o aconchego em meus ombros
só oportunidades peço
antes a fartura
que a miséria
quero me permitir
te acompanhar
Metáforas e metástases -resumo do cancer I
FOI O QUE ME LEVOU A ATENDER PESSOAS PORTADORAS DE CÂNCER
TER A DOENÇA POR PERTO!
Eu não me lembro onde eu estava quando fiquei sabendo.
Talvez se forçar a memória machucada até conseguiria
e eu não quero.
Só sei
que dentro da minha cabeça havia muito vento,
eu o sentia rodando em algum lugar.
Os meus pés estavam tão leves que
voavam ou flutuavam ou caíam?
E todas as manhãs eu tentava saber se era realmente verdade
se realmente estava acontecendo,
era comigo?
E as manhãs insistiam em me dizer que...
-sim!Sim,sim,mil vezes sim.
Ainda o vento estava por lá.
Era a realidade daquela nova vida
cujo câncer está por perto.
Eu nego?
Eu me revolto?
Eu ignoro?
Eu aceito?
Eu aceito.
Agora reestruturando tudo,
e visualizo os meus sonhos,
que estão por vir
que
quero insistentemente buscá-los
Me desculpe, eu não vou ignorar
os meus sonhos.
TER A DOENÇA POR PERTO!
Eu não me lembro onde eu estava quando fiquei sabendo.
Talvez se forçar a memória machucada até conseguiria
e eu não quero.
Só sei
que dentro da minha cabeça havia muito vento,
eu o sentia rodando em algum lugar.
Os meus pés estavam tão leves que
voavam ou flutuavam ou caíam?
E todas as manhãs eu tentava saber se era realmente verdade
se realmente estava acontecendo,
era comigo?
E as manhãs insistiam em me dizer que...
-sim!Sim,sim,mil vezes sim.
Ainda o vento estava por lá.
Era a realidade daquela nova vida
cujo câncer está por perto.
Eu nego?
Eu me revolto?
Eu ignoro?
Eu aceito?
Eu aceito.
Agora reestruturando tudo,
e visualizo os meus sonhos,
que estão por vir
que
quero insistentemente buscá-los
Me desculpe, eu não vou ignorar
os meus sonhos.
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